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O cérebro concurseiro em extinção 🧠
Respiro #026, ConcUP #108

RESPIRO
dia de tomar banho. sábado é tipo bônus de videogame: dá pra descansar, mas também dá pra usar o extra pra ganhar pontos.
HOJE, NESSA EDIÇÃO:
💡 Talvez você não tenha TDAH.
🤑 Distração como modelo de negócio.
🖊 “Pelo menos tô indo, né?”
🐴 “Não consigo estudar e ler”
BEM-VINDO A 2025
Talvez você não tenha TDAH

(Imagem: GIPHY)
Sua cabeça não tá quebrada. Ela só evoluiu pra sobreviver no mato, e agora você quer que ela fique 3 horas focada em jurisprudência processual civil com o celular vibrando do lado.
A mente concurseira ancestral 🦖
O seu cérebro não foi feito pra estudar pra concurso. Nem pra sentar num ambiente fechado por quatro horas lendo um PDF que fala sobre remissão de dívidas ou modalidades de licitação.
Nosso sistema neural foi moldado ao longo de milhares de anos pra prestar atenção em tudo ao mesmo tempo. É um mecanismo de sobrevivência. Você precisava notar o barulho no mato, o vulto do lado, o cheiro de fumaça, a cara de ciúmes do seu companheiro de tribo. A distração era estratégica.
Ficar em estado de alerta, desconfiar de tudo, captar qualquer mudança ao redor: isso era o que mantinha você vivo. Então a sua mente foi treinada pra captar estímulos, não pra ignorar.
E hoje, você quer que ela se comporte como um laser? Boa sorte. A atenção era pulverizada por instinto. Foco prolongado? Só se fosse pra não morrer.
Então não, você não é fraco por sentir a mente dispersar. Você é só um Homo sapiens tentando forçar a evolução milenar a virar banca CESPE. O que já é, por si só, uma espécie de loucura.
Só que tem um detalhe: nós evoluímos. E o mundo, também. A caça agora é outro tipo.
A mente concurseira moderna, destruída pelo feed 📲
Se no passado o cérebro precisava ficar atento a leões e cobras, hoje ele precisa lidar com 55 abas abertas, story novo da blogueira fitness, notificação do Nubank, e-mail da banca, grupo da família e um reels sobre produtividade com música lo-fi tocando ao fundo.
Você não está disperso porque tem um problema. Você está disperso porque está vivo em 2025. Esse é o problema. Não que seja um problema estar vivo. Você entendeu!
O mundo foi otimizado pra capturar sua atenção. Tudo grita o tempo todo. Você entra no celular pra ver o gabarito e sai 40 minutos depois com um vídeo de receita, uma crise existencial e uma nova opinião sobre a reforma tributária.
Isso não é coincidência. É arquitetura. É psicologia. E qualquer outra ciência capaz de modular seu comportamento.
Então quando você diz "não consigo focar", não é preguiça. às vezes, claro, é preguiça, e a gente sabe. É design. O ambiente foi feito pra te distrair. Você quer competir com isso usando só um cronograma no papel? Com todo respeito: você já perdeu.
Mas aqui entra a boa notícia: você pode reagir. Só que vai ter que sair da ilusão de que foco é um estado natural. Não é. Foco é um estado conquistado.
E mesmo assim, você se culpa por não conseguir ficar 1h lendo o PDF como se estivesse num templo zen do Himalaia. E ainda abre o Instagram pra ver como o fulano "rende mais que você".
Spoiler: ele também está surtando. Então a culpa não é (só) sua. Mas a responsabilidade é. Se você quer passar, vai ter que reensinar seu cérebro a fazer o que o mundo está tentando destruir: ficar.
Como treinar uma mente que só quer fugir 🧍♀️
Seu foco não vai cair do céu. Você não vai acordar um dia com um espírito samurai encarnado dizendo "hoje vou estudar 6h líquidas com concentração plena". Isso é fanfic. Se acontecer, procure ajuda.
O foco é treinável. Mas o treino não é legal. Ele é repetitivo, frustrante, incômodo. É como voltar pra academia depois de um ano parado e descobrir que subir uma escada é sofrimento. se você for fumante, complica mais
Comece pequeno. 15 minutos. Sem celular. Sem interrupção. Depois, mais 10. Mais 20. Use cronômetro. Bloqueador de site. Cueca ritualística da sorte. O que funcionar.
Você precisa criar um ambiente onde o cérebro não seja bombardeado a cada segundo. Foco é também ambiente. Rotina. Previsibilidade. Limite.
Isso não é ser chato. É ser estratégico. Você quer resultado? Então crie condições reais pra ele acontecer.
Faça pausas. Coma direito. Durma. Mexa o corpo. Se você está se alimentando de ansiedade e cafeína, vai explodir em pouco tempo.
Mais importante: pare de se sabotar com culpa. Estudar com foco é DIFÍCIL. Pra todo mundo. É normal a mente fugir. Mas é sua tarefa chamá-la de volta.
Se você estuda 30 minutos por dia com foco real, está na frente de quem passa o dia inteiro fingindo que estuda enquanto resolve boleto, reclama no grupo e comenta meme sobre simulado.
Você não precisa se tornar um monge. Você só precisa se tornar uma pessoa que insiste. Que fecha a aba. Que volta pro PDF. Que entende que o mundo quer sua distração, mas você quer sua aprovação.
E, convenhamos, uma hora os dois vão entrar em conflito. Então decide logo de que lado você vai ficar. No fim, quem passa não é o que nasceu focado. É o que aprendeu a ficar.
DIÁRIO DO CONCURSEIRO ANÔNIMO
Estudo todo dia, mas nunca é o suficiente na minha cabeça. Faço 2 horas e penso: ‘era pra ter feito 3’. Aí faço 3 e penso: ‘quem estuda sério faz 5’. Conclusão: nunca fico satisfeita, mas pelo menos tô indo, né?
MUNDO
Distração como modelo de negócio

Imagem: DATAREPORTAL
O relatório Digital 2025 não veio com um carimbo escrito “atenção em frangalhos”, mas deixou tudo nas entrelinhas. Primeiro, ele mostra que o ritmo das tendências digitais é descrito como “overwhelming” (aquele esmagadorzinho básico). Depois, aponta que a internet virou um canivete suíço de motivos: procurar informação, matar o tédio, assistir vídeos curtos que somem meia hora da sua vida em três cliques.
E claro, as redes sociais já entenderam: se você tem tempo livre, elas têm feed infinito. O famoso doomscrolling não é bug, é feature. O TikTok, por exemplo, conseguiu o feito de prender o usuário médio quase 35 horas por mês — 7% da vida acordada da pessoa só pra ver gente dançando, narrando crimes ou ensinando receita de miojo gourmet.
Resumindo: ninguém precisa medir “distração” com régua e compasso. O próprio design das plataformas já é feito pra isso. Não é acidente, é modelo de negócio. Enquanto a gente pensa que tá “passando o tempo”, o tempo é que tá passando a gente.
INDICAÇÃO
Não consigo deitar e ler
No vídeo, o maioral Eslen Delanogare (que a gente já indicou aqui) aproveita a ironia do “Crônicas de Jorge” pra explicar, com base em ciência, que nem todo mundo que se distrai tem TDAH. Às vezes, você só tá cercado por estímulos demais, ansiedade, celular vibrando e uma leve ilusão de que o seu cérebro deveria funcionar como o de um monge tibetano.
Mais do que isso, ele fala sobre a importância de não banalizar o tratamento: remédio não é bala de foco, e tentar turbinar o cérebro saudável com metilfenidato só porque o edital saiu é receita pra frustração. Em tempos de hiperprodutividade e autocobrança disfarçada de disciplina, o vídeo é um lembrete: talvez você não tenha TDAH.
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SOBRE NÓS
Não sabemos se somos a primeira studyletter do brasil (ou se inventamos esse nome agora mesmo) – mas certeza que não somos só mais um pdf chato. Toda terça, quinta e sábado na sua caixa de entrada.
Aqui o direito vem com humor ácido, ironia, organização e aquele empurrãozinho que todo concurseiro precisa. Se estudar fosse uma série, a ConcUP seria aquele episódio que você não pula nem a abertura.